Inicio o ano e este primeiro artigo de 2018 trazendo uma frase do escritor brasileiro, Ariano Suassuna. “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. Não é fantástica essa frase? Coisa de quem vem para este mundo para provocar, nos fazer refletir, produzir insights e movimentos em nós.
Inspirado nesta frase nasceu o título deste artigo e sua correlação com a visão que tenho sobre a produtividade e a evolução da suinocultura brasileira nos últimos anos. A pegada que eu quis transmitir foi a do “realista esperançoso” mesmo.
Quando eu analiso a produtividade e a evolução da suinocultura brasileira (e acredito que essa análise também sirva para outras áreas da pecuária), sempre procuro direcionar o meu olhar em duas dimensões: porteira para dentro e porteira para fora. Faço isso porque percebo nitidamente que essas duas partes evoluem, infelizmente, em ritmos diferentes. Enquanto vejo que da porteira para dentro, de forma geral, os produtores têm feito a sua parte, têm investido em tecnologia (pacote genético, nutricional, sanitário), capacitado cada vez mais o seu time, ampliado sua consciência em termos de meio ambiente, investido na qualidade de vida e desenvolvimento dos colaboradores, etc. Da porteira para fora, o custo Brasil e os nossos representantes de governo só têm deixado a desejar.
Da porteira para dentro, há 10 anos eu participo de um projeto chamado Melhores da Suinocultura, um campeonato anual de produtividade, baseado especialmente no índice de produtividade desmamado por fêmea por ano, que mede o desempenho de mais de 80% dos produtores brasileiros. Neste período, os indicadores comprovam que os produtores estão fazendo a sua parte e estão de parabéns pelo bom trabalho desempenhado. Saímos de uma produtividade média de 24 DFA para 27 DFA com uma velocidade média de ganho de produtividade de 0,2 ao ano, o que mostra que os nossos produtores estão conseguindo capturar ganhos acima do que é prometido pela evolução genética (em torno de 0,15 ao ano). Além disso, nossos melhores produtores já ultrapassaram a marca de 35 desmamados por fêmea ano e os TOP50 evoluem em média mais de 0,5 leitões desmamados por ano.
Temos muito o que melhorar? Sem dúvida que sim. Ainda temos produtores com desempenho inferior aos 24 desmamados por fêmeas por ano. Os desafios são grandes, entre eles o recurso humano, especialmente considerando que a mão de obra no campo precisa ser melhor qualificada. Porém, apesar dos desafios, também vejo as mudanças como aliadas na solução de problemas e acredito na pegada “realista esperançosa” dos líderes que fazem acontecer da porteira para dentro.
Enquanto isso, nossos “heróis” ou representantes estão mais para vilões e confesso que é difícil ser esperançoso em certos momentos. Da porteira para fora, grandes demandas estão relacionadas ao poder público. A que nos afeta mais diretamente é a falta de uma infraestrutura apropriada, pois impacta tanto no momento de trazer os insumos básicos para a nossa produção quanto no escoamento dos nossos produtos acabados. Além disso, a inexistência de uma política agrícola robusta é outra barreira que nos deixa reféns de grandes oscilações de mercado e cria um paradoxo, por exemplo, entre produtores de grão e produtores de carne que, ao invés de sinergia, promove o “cada um por si e Deus por todos”. E, por último, os inúmeros desperdícios com a burocracia e uma carga tributária injusta sem o devido retorno.
Por sorte ou teimosia, o povo brasileiro em geral e o setor privado especialmente insistem em ter esperança. Mas, faço aqui uma referência ao filósofo Mario Sergio Cortella, refiro-me ao verbo esperançar e não ao verbo esperar. Segundo Cortella, diferentemente de sentar e ficar esperando, o verbo esperançar é ir atrás, é buscar, é não desistir, é arregaçar as mangas e fazer acontecer. Por conta disso, temos colhido excelentes resultados especialmente no agronegócio brasileiro.
Imaginem então um cenário onde a cultura do poder público comece a mudar, onde novas pessoas cheguem no governo e levem essa mentalidade do verbo esperançar. Quem sabe poderemos ver os resultados nesse setor também acontecer e aí sim termos um Brasil completo. Imaginou? Pois é… Se melhorar, melhora!
Fonte:
Artigo da edição de janeiro extraído da Revista Feed&Food, escrito por Everton Gubert, fundador e diretor da área de Inovação da Agriness.