Há alguns anos, em um evento do setor de suinocultura, tive o privilégio de assistir a uma palestra sensacional sobre liderança proferida pelo Paulo Storani, ex-capitão do BOPE-RJ. O Paulo é uma pessoa de uma energia contagiante e em suas palestras usa essa característica para ajudar na transmissão das suas ideias, fazendo com que o aprendizado seja natural e empolgante. E foi dentro deste clima de alta energia que acabei aprendendo com ele um conceito que me ajuda muito na qualificação das equipes com quem trabalho.
Este conceito veio nas entrelinhas de uma história sobre como era o processo de formação de equipes de alto desempenho no BOPE que o Storani compartilhou conosco. Segundo ele, a formação do grupo tem como pilar a capacitação e o planejamento. A coisa que o BOPE mais faz é treinar. Treinam a exaustão para garantir que tudo o que foi combinado seja executado quando a necessidade de ação surgir. E, como se sabe, as ações do BOPE quase em sua totalidade expõem os soldados a risco de morte. Dependendo do confronto em que estão envolvidos, qualquer descuido pode ser fatal.
Outra atividade levada a sério para este tipo de batalhão é o planejamento. Eles precisam dedicar muita atenção a este processo para conhecer em detalhes o tipo de inimigo que irão enfrentar, o tipo de local do confronto, as possibilidades de mudança de planos caso o plano A não esteja funcionando, enfim, revisar cada detalhe da estratégia antes de agir. Quando a ação exigida é a subida de um morro, seja lá por qual motivo, uma parte do planejamento é a determinação da formação tática do grupo que vai subir. Segundo a minha interpretação, existem algumas variações táticas para posicionar os soldados neste tipo de operação.
Foi neste momento da história que o Paulo estava contando que veio para mim o grande “insight”. Na sua narração ele deixou claro que, quando a equipe está subindo um morro de acordo com uma formação tática escolhida, cada componente do grupo tem uma função específica e fundamental para o sucesso do trabalho. Usando a frase “No BOPE temos que ter certeza de com quem nós subimos o morro” ele deixou claro que, especialmente quando há um confronto no decorrer da subida, todos precisam manter as suas posições para o sucesso da operação. Não tem como alguém dar para trás. Se isso acontecer, pode-se colocar em risco toda a equipe.
Ele estava falando de tática, de funções e responsabilidades, de equipe, mas eu estava pensando em que significava “ter certeza de com quem nós subimos o morro” dentro de uma empresa, inclusive da minha. A minha interpretação é que existem vários conceitos importantes de liderança e de trabalho em equipe embutidos nessa frase. A confiança, em especial, é o que mais me chama a atenção.
Lembrei então de um comportamento que percebo em muitos grupos de trabalho e que talvez você perceba também. Quando as coisas caminham bem, não há muito risco, os debates são mais tranquilos e tendem a convergência de opiniões com facilidade. Todo mundo é bom. Porém, nos primeiros indícios de que o vento virou, e que a crise está instalada, tem muita gente que pede pra sair. É neste ponto que muitos se revelam e mostram que não são confiáveis e nem possuem competência para fazer parte de uma equipe vencedora. É neste ponto que você para e pensa “Com quem eu estou subindo o morro?”.
Trazendo para a prática, são aquelas pessoas que saem no meio de um projeto onde você conta com ele para entregar no prazo, sem ter o mínimo de consideração com a equipe da qual ele faz parte. São aquelas que pensam mais individualmente e estão preocupadas exclusivamente com os seus crescimentos e nos ganhos de vantagens, que só querem sugar das empresas e pouco oferecem em troca. São profissionais com este tipo de comportamento que geralmente vão te deixar na mão lá em cima do morro, quando você mais precisa deles.
Hoje, nas equipes onde eu atuo, não abro mão de desenvolver o espírito de equipe e o trabalho com base no pilar da confiança. Todos ganhamos e perdemos juntos. Não existem culpados. Fortalecemos a autorresponsabilidade para que as pessoas sejam maduras o suficiente para assumir a sua parte e agir na melhoria. Subimos o morro juntos, de mãos dadas, e nos preparamos para os desafios das diversas situações que encontramos. Convido você a responder também a pergunta “com quem eu subo o morro”. Espero que este conceito possa te ajudar a criar uma grande equipe, com alto nível de confiança e performance.
Fonte:
Artigo extraído da Revista Feed&Food, escrito por Everton Gubert, fundador e diretor da área de Inovação da Agriness.
Realmente a confiança é a base para o sucesso, porque sem confiança você não consegue nem administrar uma equipe quando está ausente! Perfeita a matéria!