No último mês de agosto eu e o coordenador de negócios internacionais da nossa empresa fomos ao Chile visitar alguns clientes e iniciar novas parcerias por lá. Como sempre fazemos, saímos do Brasil com um foco bem definido e com as agendas marcadas para tirarmos o máximo de proveito da viagem. Mesmo com muitos compromissos, em viagens para fora do país, eu costumo reservar um tempo (por menor que seja) para conhecer algo da cultura local, algo diferente do que eu vejo no Brasil e que possa me ajudar a expandir a minha consciência e os meus conhecimentos.
Um dos nossos compromissos aconteceria na região do Vale Central, a principal região produtora de vinhos do Chile e, por coincidência, temos um amigo que mora nessa região e que também trabalha com agronegócio. Resolvemos aproveitar a ocasião e solicitar a ele a gentileza de nos indicar um passeio em uma vinícola na cidade onde ele vive, Curicó. E foi a partir desse pedido que fomos surpreendidos com uma aula de história e cultura, e ainda tivemos a oportunidade de conhecer um extraordinário conceito de negócio.
Nosso amigo, Reinaldo Cubillos, não escolheu somente uma vinícola “top de linha”, mas a que foi a grande responsável por tornar o Chile um dos maiores produtores e exportadores de vinho do mundo: a Vinícola Miguel Torres. Miguel Torres é um super empreendedor espanhol que foi morar no Chile na década de 70 e desde então vem revolucionando a forma de produzir vinhos no país. Foi ele, por exemplo, que levou para o Chile a tecnologia de uso do barril de aço inox para substituir os velhos barris de madeira na parte inicial da produção do vinho. São tantas inovações, conceitos e histórias sobre ele que seria necessário muito mais que este artigo para transmitir tudo que aprendi sobre esse cara incrível.
Nessa visita, além de experimentar alguns vinhos excepcionais e de conhecer a história linda de um empreendedor inspirador, eu trouxe comigo um conceito praticado na vinícola que chamou muito a minha atenção e que eu nunca tinha ouvido falar antes: fair trade (comércio justo). Resumidamente, este conceito sugere que quando uma empresa compra suas matérias-primas diretamente de um produtor, especialmente commodities, essa empresa deve preocupar-se com o desenvolvimento sustentável desse produtor e proporcionar melhores negociações e preços justos para seus produtos. A vinícola Miguel Torres estampa o selo Fair Trade nas garrafas das linhas que são produzidas com uvas adquiridas de produtores da região. Este selo – que é conferido por um órgão internacional – certifica, entre várias coisas, que a vinícola pratica negociações justas com seus fornecedores, os produtores de uva locais.
E esse é um traço de grandes empreendedores que constroem muito mais que grandes empresas: constroem empresas duradouras. Não querem simplesmente ver seus negócios prosperarem, querem contribuir com a sociedade em seu entorno e, mais do que isso, deixar um legado para as próximas gerações. Por seu tamanho, força e relevância poderiam criar uma relação de dependência extrema, deixando os produtores à míngua, mas fazem exatamente o contrário.
Dessa forma, todos os produtores conectados a eles conseguem ter sustentabilidade, têm lucro com seus negócios, podem cuidar do meio ambiente, investir em educação, treinamento e inovação. Podem pagar melhores salários para seus colaboradores e tornar o negócio da família um negócio atrativo para que seus filhos queiram estudar e aplicar no próprio negócio o conhecimento adquirido, sem precisarem mudar de local por falta de oportunidade, pelo fato de o negócio ser incapaz de manter mais de uma geração sob ele.
Acredito muito que esse conceito poderia ser cada vez mais aplicado em nossas cadeias produtivas em todo o agronegócio brasileiro. Acredito que ainda há muito espaço para melhorarmos em termos de rentabilidade para os nossos produtores. Infelizmente ainda vemos muitas empresas usando de sua força para praticar negociações desproporcionais com os produtores. O fiel dessa balança serão os consumidores. Cada vez mais eles estão querendo não só melhor qualidade de produto, mas melhor qualidade para a cadeia. São consumidores conscientes com a sustentabilidade e que optam por comprar produtos vendidos através do comércio justo. As novas gerações são exemplares neste quesito e estão comprovando a cada dia que os hábitos estão mudando e que nada é eterno.
Voltei do Chile entusiasmado com essa ferramenta poderosa de negociação, na qual são prioridade a transparência, a preocupação com o todo, com a sustentabilidade do negócio e das relações. Este olhar propõe uma mudança de mapa mental para a maioria das lideranças que conduzem as negociações com os produtores. Precisamos começar a enxergar os produtores e os fornecedores como centros de valor e não como centro de custos. Além do exemplo da vinícola chilena, hoje temos milhares de negócios que comprovam que a mudança já está acontecendo, que gera muito mais valor para toda a cadeia e que os consumidores valorizam isso. Assim como eu, você também percebe o Fair Trade como uma oportunidade de diferenciação para o seu negócio?
Fonte:
Artigo de Everton Gubert, fundador e diretor de Inovação da Agriness, para sua coluna “Ponto de Partida” na Revista Feed&Food. Publicado na edição de outubro de 2018.
olá queridos amigos da AGR/NESS, especial á você, Everton, que vai além de nos auxiliar na gestão do negócio, preocupa-se na produção como um todo, desde a motivação do produtor, empreendedor, englobando tudo e todos da área, até o produto final, que deveria ter o preço justo e reconhecimento do governo pro trabalhador(empregador), que seja bem vindo esse Fair Trade, estamos necessitados de algo assim em nosso país, e poder conhecer outras culturas e adequar à nossa, pra nós é muito bom ,forte abraço!
Muito obrigado pelas palavras Alessandra. Nosso compromisso aqui na Agriness é de sempre compartilhar inovações e conhecimentos que possam fazer a diferença para o nosso agronegócio. Agradeço pelo seu apoio e interesse nos temas que compartilhamos. Quanto mais pessoas estiverem informadas sobre as melhores práticas que há no mundo, mais capacitados estaremos para desempenharmos a nossa vocação: produzir alimentos!
Grande abraço a você e toda a linda família Sacon.
Excelente texto e conteúdo. Renovo minhas energias ao ler matérias bem escritas e com conteúdo ético.
Parabéns!
Olá Débora,
Agradecemos seu comentário em nosso blog. Ficamos felizes em saber que nosso conteúdo foi útil para você.
Um grande abraço.