O alimento da desinformação (Everton Gubert)
O alimento da desinformação (por Everton Gubert)

O alimento da desinformação (por Everton Gubert)

No sábado de manhã, dia 25 de março de 2017, um dia depois de ser deflagrada a operação “carne fraca”, eu estava em um açougue que fica dentro de um dos tradicionais supermercados aqui de Florianópolis quando um senhor, com seus 60 anos, fala a seguinte frase num tom de brincadeira: “Toma cuidado para não comprar carne com papelão!”. Minha curiosidade em saber mais sobre a opinião dele foi tanta que provoquei um diálogo, dizendo: “Pois então, meu amigo, o que você achou sobre o que foi revelado ontem?”. Neste instante, percebi que o que parecia brincadeira era na verdade o estopim para ele colocar para fora a sua indignação. “É brincadeira o que estão fazendo com o povo. Colocar papelão na carne é muita sacanagem! Até onde vamos chegar neste país”, disse ele com um semblante sisudo e com muita raiva na fala.

Confesso que fiquei um tanto mexido com esse diálogo já que ele afeta o nosso setor produtivo. Mas, no caminho de volta para casa comecei a refletir sobre o ocorrido e percebi que o problema era muito maior. Apesar da notória facilidade que temos hoje em dia de acesso à informação, por meio da internet e da disponibilidade dela através de múltiplos equipamentos (computador, tablet e, especialmente, o celular), sem contar os tradicionais meios de comunicação onde há milhares de opções, a experiência que tive com aquele senhor do açougue mostrou que no auge da chamada “era da informação” estamos cada vez mais desinformados.

Na prática, percebo que estamos adotando uma postura pautada na superficialidade e nas informações de manchetes. Temos feito pouco esforço para buscar realmente entender, conhecer, saber os fatos completos para realmente nos mantermos informados. E as tecnologias e as ferramentas da era da informação têm ajudado cada vez mais à desinformação. Quer ver um exemplo disso? Uma das excelentes ferramentas de comunicação que surgiram nos últimos anos foi o aplicativo WhatsApp. Particularmente, essa ferramenta facilita um bocado a minha comunicação profissional e pessoal pois de forma rápida consigo propagar e receber informações. Porém, como quase tudo na vida, essa facilidade do WhatsApp tem seus bônus e ônus. Um dos ônus, na minha opinião, foi a aceleração da comunicação superficial e o compartilhamento de “informação” de manchete. É impressionante a quantidade de “coisas” que são compartilhadas sem um mínimo de cuidado, sem checar a fonte, sem buscar outras versões, sem o trabalho para formular uma opinião própria.

Talvez esse seja o ponto: trabalho. Ter opinião própria, saber realmente o que a informação entregue quer dizer de verdade, dá bastante trabalho. É necessário investir tempo no aprofundamento das questões, em estudo, leitura, análise. Pela voracidade com que percebo que as “informações” são compartilhadas, me parece que as pessoas têm uma falsa sensação de que ao transmitirem primeiro, o mais rápido possível, as tornam pessoas mais informadas. Voltando ao WhatsApp, como nosso exemplo moderno de propagação de informações, pergunto: quantas pessoas que compartilham instantaneamente o que chega em seu celular realmente se dão ao trabalho de verificar ao menos se a informação é verdadeira? E você, faz isso?

Analisando com o mesmo critério e olhando para o nosso agronegócio, para o trabalho que realizamos dentro das nossas empresas, faço uma pergunta: Quanta informação é propagada sem realmente analisarmos ela? Faça uma análise crítica sobre o desperdício de energia, tempo e recursos que causamos pelo fato de nos agarrarmos na primeira “verdade” que nos é apresentada. Em virtude de termos muita informação disponível, será que não estamos perdidos em meio a elas? Será que desaprendemos a fazer simples perguntas que apoiam a análise, como: Por que isso está acontecendo? Em que contexto está acontecendo? Será que essa é a verdadeira causa ou é apenas um efeito?

Você que é do agronegócio, convido a tentar responder algumas perguntas e fazer uma reflexão sobre: Quanta desinformação está sendo gerada dentro da sua empresa? Quantas decisões estão sendo tomadas com base em frases de efeito, em meia informação, em crenças limitantes, em modismos, em muitos “eu acho”? Faça essa reflexão e certamente verá que não é só em eventos como a “Carne fraca” e em ferramentas de WhatsApp que a desinformação é gerada. Creio que temos uma grande oportunidade de melhorarmos a nossa tomada de decisão e a nossa assertividade nos processos de gestão se investirmos tempo de qualidade nessa que é umas das principais matérias primas da nossa era, a informação.

Fonte:
Artigo extraído da Revista Feed&Food, escrito por Everton Gubert, fundador e diretor da área de Inovação da Agriness.

2 Comentários

  1. Realmente! ou infelizmente, a informação está tão rápida que não confio mais sem me certificar da verdadeira, muito diz que diz ninguém sabe de nada, e critica o que não é verdade, e a verdade fica escondida.é um péssimo negócio em não saber usar o que tem de melhor, na boca de quem não presta o que é bom não tem valor.(minha opinião)

    Responder
  2. Olá Julmir. Perfeita a sua colocação. Por isso é sempre bom não nos apegarmos as manchetes e checarmos melhor as fontes. Valeu pelo seu comentário.

    Responder

Enviar comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.